quinta-feira, 20 de maio de 2010
Haruki Murakami
(do the wind-up bird chronicles)
Todo mundo nasceu com alguma coisa diferente no centro da sua existência. E essa coisa, seja o que for, torna-se como uma fonte de calor que percorre cada pessoa por dentro. Eu também tenho um, claro. Como todo mundo. Mas às vezes fica fora de mão. Incha ou encolhe dentro de mim, e isso me sacode. O que eu realmente gostaria de fazer é encontrar uma maneira de comunicar esse sentimento a outra pessoa. Mas não consigo fazer isso. Eles simplesmente não entendem. Claro, o problema pode ser que eu não estou explicando isso muito bem, mas acho que é porque eles não estão ouvindo muito bem. Eles fingem estar ouvindo, mas não estão, na verdade.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
by the world forgot
segunda-feira, 10 de maio de 2010
fogos de artifício em preto e branco
É muita coisa. É muito vazio. É muito buraco que se acumula e forma-se um grande. Maior. Muito maior do que jamais vi. Talvez os limites sejam dados exatamente pelas consequencias que são dadas pela falta de limites. Pelo que vi, toquei, senti. Mas não é meu. Minhas metáforas agora me dizem adeus e trancam a porta. A casa bonita foi destruída. Os laços cortados. Só restou eu. Morri viva. Viva! Morri.
Eu descobri lugares que nunca tinha experimentado. Fui vezes que não participei da celebração. Mas agora só vejo restos. Restos no chão que não consigo limpar, só esquecer. São restos de nada, jogados por quem eu menos esperei. O que faz eu mesma eu mandei para trás. É algo que eu não consigo suportar? Bem, consigo sobreviver. Mas não consigo ver por trás de tudo isso que se esconde por de trás do belo, no inapalpável, do que se sente mas não se consegue enxergar. Eu queria que fosse como a neve: caisse e gelasse e depois derretasse. Assim: com o sol. O sol que um dia me guiou e que fechou as cortinas pra mim. A minha rotina tem me dado chutes pra que eu acorde de vez. Tem me pedido pra sair da minha cama quente, confortável. Como um balde de água fria em um frio de 12 graus.
Você entende, certo?
Existe o fogo - urgência no peito, que me faz respirar, levantar-me. Mas nunca foi o suficiente. Ouço foguetes. Não quero ouví-los. Vou com a corrente que me faz subir por 10 horas. Quando acordo, sinto tudo, menos os retrasados. Meu deserto tem água. É frio. Sopra areia nos olhos. É frio.
Te convido a dançar ao som dos dias que se passam. Você não pode fazer nada a não ser dançar e fechar as janelas quando o sol queima seus braços que não são mais dourados. A descoberta te faz cair no chão.
Então vou ficar por aqui. Espero um incêndio pra que eu possa fugir e no final rugir.
Rugir como um gato doméstico.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
LÁSTIMA /
Lástima
Margarita García
Teodora / La Insignia*. Argentina, agosto del 2008.
La chica nació con una gran protuberancia en el corazón que está hecha de lástima. Por eso sólo es capaz de sentir lástima: lástima por los árboles, por los niños, por los hámsters. Esta vez el depositario de su lástima fue el remisero. La chica miraba el aparato agarrado a la oreja del hombre con la tristeza de una caricatura: ojos y labios encorvados hacia abajo. El remisero le preguntaba cualquier cosa y ella contestaba gritando que "¡sí, muy bien!, ¡muy linda la ciudad!" Cuando llegaron al hotel, él bajo las maletas y se dispuso a llevarlas al lobby, y ella volvió a gritarle: "¡No, gracias, yo puedo!" Y le dio veinte dólares de propina. Al hombre se le iluminó la cara, se le vio la intención en la pupila de alzar en sus brazos a esa chica gritona y correr en círculos. Pero se contuvo, dijo gracias y se fue. Ahí fue cuando yo la encontré; llevaba diez años sin verla, desde que nos recibimos del colegio. Ella se hizo médica, se unió a Médicos sin fronteras y se fue a vivir al Africa: todo por culpa de la protuberancia en su corazón. Yo me hice periodista y me vine a vivir a Buenos Aires porque debo tener el corazón muy chato. La saludé con un abrazo y me contó que estaba muy conmovida con su remisero sordo, y que yo sabía cómo era ella, que si me acordaba de esa vez que le regaló toda su ropa a la mujer que pedía en la vereda de su calle porque le dio pena verla así tan haraposa. Yo no me acordaba de eso, pero podría jurar que es cierto porque a esa chica buena la vi hacer cosas peores. Después fuimos a almorzar y repitió excitada la historia del remisero sordo, diciendo tantas veces que le había dado "¡veinte dólares!" que me sentí obligada a pagar. Y ella que no, no, por favor, y yo que sí, claro, le diste todo tu capital al sordo; y ella, orgullosa, que bueno, sí, es que no pude evitarlo. Entonces llegó la epifanía: la trajeron tres señores de traje que entraron al restó con su bluetooth agarrado de la oreja. Mi amiga ahogó un gritito, se colgó de mi brazo y los señaló con los labios, como besando el aire: "¿Todos son sordos?", preguntó. Se veía tan felizmente llena de lástima, tan rebalsada de pena profunda que pensé que decirle la verdad era una crueldad innecesaria. "Todos", dije, lo más triste que pude, sin sonreírme ni un poquito.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
at the end of the day i'm walking with a heart of a lion
Mês de bosta foi abril. que coisa. que azar. que coisa feia foi meu abril. eu não vou nem listar todas as catástrofes que me aconteceu. mas o que eu posso dizer é que foi uma atrás da outra. assim, seguida. uma seguindo e dando a mão uma pra outra, tipo fila indiana. eu tenho parcela de 90% de culpa nisso tudo. claro, não é possível. tudo que me trazia um sorriso no rosto era seguido de um saco que me derrubava no chão e me falava repetidas vezes: "it's a long way it's a long long long way". tá, eu sei, vida. a gente tem que seguir em frente. desastres tão aí pra acontecer e pra gente cumprimentar a vida, né?
então aí eu não soube falar mais nada. fiquei calada. assustada com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. eu não podia fazer nada a não ser aguentar calada os tapas na cara. é bom de vez em quando. certo?
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I've got no friends, deserto frio, Artes Visuais???, olhares fixos por 10 min. a abandon everything, é coisa demais demais demais, merdas de sábado à noite, trabalhos acumulados, money que é good nóis num have, horários, novas vidas, quase doenças, nada de filmes, nada de ninguém, "peraí. cadê minha carteira?", drama do feriado, término alheio, no time for time, e 20 outras que eu não lembro, mas senti, vivi. sobrevivi.
agora já posso falar: "tô pronta pra outras"
mas por favor, maiozinho, seja bom comigo dessa vez.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Como traça que escorre das entranhas das paredes há um barulho na noite que sigo com os pés como se eu estivesse num filme violento. Atracar nos sonidos que batem é reclamar a urgencia de multiplicar aquilo que sente. Algumas vezes se sente como o embaraço que é assistir uma comédia de púbico sem as trilhas de risada do fundo. Ou enxergar a tristeza num desenho animado. Há essas possibilidades nos braços da camisa, e o som que eu emito só eu posso escutar. O corpo no espelho, o decrescente aguardar pelas manhãs ensolaradas.
Me pede pra ficar.