terça-feira, 12 de janeiro de 2010
fishing the sky
um céu escuro costumeiro, por sinal
me ponho a navegar nessas suas pálpebras cintilantes. um caminho árduo pra prosseguir, esses tempos difíceis com armas de cano longo. alguns domingos de filme e cinema, pipoca jogada no chão, comida rápida e ida pra casa. não vem que não tem, meu amor. essa indústria que é o mundo, que é a minha cidade uma máquina que não pára de quebrar. me julgaram de imoral por ter o calor nos meus braços.
no meu quintal eu dormi por tanto tempo, olhando as estrelas, imaginando uns poucos prazeres que eu pensava que a vida iria me dar. te conheci por aquelas fotografias, uma visão simples de cotidiano, correria, onde te engoliam sem piedade. olhos ingênuos, umas leituras pra se formar pra engrenar a máquina que não cessa de andar. não me deixaram ver seu corpo e dedilhar o seu cabelo porque acharam eu poderia me afundar. imoral.
me deram umas leis no papel, e eu li com efusividade. alguns anos depois, rasguei as páginas sem piedade porque dela brotava o sangue da lei divina que apodrece os homens. as mulheres. as crianças.
mas você insiste em se portar normalmente, um sujeito decente, mesmo com as estrelas sussurrando no seu ouvido que essa vida às vezes é um beco sem saída. depois das seis você está lá no seu sofá, pensando em mim, na madrugada fria dessa cidade do cerrado.
você carrega privilégios na manga, enquanto eu carrego o aço de não pertencer a uma classe hostil. me desculpe se não soube comportar diante daqueles mil retratos do passado da sua família, é porque eu sou cidadã comum que não feita pra ser proprietária de carro bonito ou de quadras de tênis. eu era uma anônima mas não sou vítima do destino porque ele nunca foi amigo, por isso não acredito.
saudade, cidadão bonito, íntegro. vou-me indo e me despeço porque a clandestinidade briga comigo.